Desabafo: sobre squads, super especializações e a "maneira certa de fazer as coisas"

Mariana Caldeira da Costa
4 min readDec 24, 2020

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Esta não é a primeira reflexão sobre a forma nociva de se trabalhar em squads. Deixo alguns textos que li abaixo para quem tiver interesse e chegar até o final do desabafão (olha a tática).

Prefiro o videoclipe dos fãs, mas gostei das referências. Obrigada, Katy 🌻

No ano de 2020 me conectei internamente para manter minha sanidade mental e refleti muito sobre o que faço. Li, entrei em grupos de estudo, fiz cursos (e não terminei alguns), continuei na terapia, entrei para a yoga no finalzinho do ano... Passei a repensar minhas escolhas e muito disso tem a ver com o trabalho, já que são, no mínimo, 40 horas semanais :puxado:

Estrutura de times da Spotify formada por tribos (grandes blocos), capítulos(horizontais), guildas e as squads(verticais).
Tudo é legal. Tudo é legal quando você faz parte de um time. Tudo é fantástico. Quando você está vivendo um sonho. (Imagem Spotify Labs e música do filme do Lego)

Se tornou comum trabalhar no modelo de squads ou modelo Spotify (pense no som da musiquinha do Beto Carrero World, com o chicotinho queimando o asfalto). Já não é mais o diferencial das entrevistas de emprego. Mas passei a enxergar o trabalho em squads como o ápice da organização serializada.

Por muito tempo trabalhei em squads e estava feliz na minha bolha. Tinha problema? Claro que sim! Os problemas que sempre apareciam eram de comunicação dentro do time, comunicação entre os times, comunicação com a empresa (leia-se diretoria/gerência/c-levels…o que funcionar para você aí). Mas com umas cerimônias aqui e ali, eu ia lá e tentava de novo. Toda produtiva e com uma leve inocência. Até que comecei a me sentir fatigada, precisando me especializar cada vez mais e de ter um olhar cada vez mais microscópio do produto para extrair até a última gota de monetização…

Mas espera aí…a sociedade já viveu esse momento de especializações e trabalho segmentado, sem o outro ver a parte do outro, certo?!

Cena do filme "Tempos modernos", onde um homem está freneticamente apertando parafusos em uma esteira.
UFA! Ainda bem que mudamos nossa forma de trabalho, não é?!

O Carlitos ali não sabia o produto que estava fazendo. Seu trabalho era o de pregar parafusos e era uma grande incógnita o que acontecia depois daquela seção da linha de produção. O que evoluiu de lá pra cá?

A evolução é que nós sabemos o que é o produto/serviço final, só que de forma superficial. Pegando o vídeo famoso do modelo de trabalho do Spotify, quando fala sobre ter um time só para olhar a linha do tempo dos amigos, outro só para cuidar do player, outro só para cite aqui, me dá um frio na espinha! Porque esse modelo não é a prova de falhas. Quando se divide em times para cuidar de produtos teoricamente independentes, os problemas de comunicação aumentam, as inconsistências aumentam e as contradições de prioridade na empresa também podem aumentar. Os subprodutos se tornam concorrentes dentro do mesmo sistema.

O trabalho sai mais rápido, afinal, foi criada uma subempresa para cuidar de cada parte do todo! Mas o quanto do trabalho em squads não está nos vendando, fazendo com que não enxerguemos a complexidade do sistema? O quanto isso nos torna profissionais e pessoas melhores que podem contribuir não só com o crescimento da empresa mas com o impacto que causamos na sociedade?

Abstração é importante. Afinal, se temos um sistema complexo podemos ficar paralisadas por não entender o todo. Porém, será que muita abstração significa alienação? Como vou ajudar o mundo ser um lugar melhor (síndrome de miss) sendo que nem tenho ciência do quão complexo é meu contexto?

Penso no quão importante para minha carreira foi me envolver com produtos. Me envolvi tanto a ponto de entrar em crise: sou PD, sou Researcher, sou Strategist, sou PM? Que porra eu sou?! Não foi fácil. Tenho pesadelos a cada quarter sobre isso. Mas fez expandir minha visão. Será que é isso que precisamos? Menos squads, menos especializações super especializadas e mais conhecimento geral?

Óbvio que lucros são importantes, mas estamos nos tornando cada vez mais operacionais em vez de estratégicos (que é o que queremos ser…certo?). E ser estratégico não é só olhar a parte…da parte…da parte…do todo.

Como podemos assegurar uma experiência consistente quando o produto tem subprodutos? A resposta não é o Design System! Experiência é algo maior que interface digital, interação, motion

Atualmente trabalho no mercado financeiro e incrivelmente é onde vejo que posso atuar de forma mais geral ou holística(não é jabá, mas temos vagas — aquelas rs). Tem tantas mudanças nesse meio ultimamente (alô PIX e Open Finance) que sinto confiante e animada em entender e continuar puxando o emaranhado de problemas complexos, fazer ponte com pessoas de outras áreas e também ajudar a construir pontes para outras designers. Pode ser que foi um misto de um propósito de vida mais nítido com experiências passadas, mas saindo do trabalho desse modelo squad, tudo tem ficado mais compreensível para mim.

Aí vem mais questionamentos…

  • Será que vale trabalharmos olhando para o todo de novo? Um salve para as webmasters…
  • Será que não devemos mais trabalhar em squads e voltar para nossos capítulos (áreas) e nos fortalecer?
  • Como trabalhar no todo e não perder a comunicação com outras áreas?
  • Como não ter vaidades da disciplina com as áreas fortalecidas?

Não tenho respostas. Eu só queria desabafar mesmo.

Já ia me esquecendo das referências…

https://www.harbott.com/why-squads-and-tribes-probably-wont-work/

https://www.linkedin.com/pulse/spotify-sucks-erwin-verweij

https://www.jeremiahlee.com/posts/failed-squad-goals/

Obs.: não tenho nada contra Spotify, até porque nem lá se usa mais o modelo inicial de squads(leia nas referências). É isso. FlwVlw 🤙🏼

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Mariana Caldeira da Costa

Designer, cantora no chuveiro e dançarina contemporânea freestyle. Compra livros pelo projeto gráfico e é fissurada em entender porque fazemos o que fazemos.